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Foto do escritorRobson Perez de Oliveira Junior

Como o uso de dados pode reescrever a educação brasileira

Atualizado: 15 de mar. de 2023



A Pandemia da Covid-19 trouxe inúmeros problemas para a área de educação e novas situações desafiadoras foram impostas. Nesse sentido, é importante destacar a mudança no ambiente de aprendizagem para o universo online (que afetou especialmente os jovens mais pobres), o retorno da evasão escolar em escala e a geração de um déficit de aprendizagem, que deverá se refletir nos indicadores futuros de qualidade da nossa educação.

Especialistas e pesquisadores ainda estão tentando quantificar o tamanho do estrago. Mas, para qualquer profissional da área que esteja na linha de frente, os problemas nas escolas são visíveis. Neste contexto, há algumas ferramentas que surgiram e podem servir como suporte para garantir apoio aos profissionais da educação nesta jornada desafiante.


Precisamos de dados que permitam uma ação preventiva, para que a escola possa evitar que o aluno ou aluna desistam do ensino. Bruno Rizardi

Estamos falando de dados secundários, gerados no contexto de Pandemia, que não só podem permitir um diagnóstico mais preciso da dramática situação da educação no país, como também auxiliar a entender os contextos complexos em que muitos alunos e educadores brasileiros estão inseridos.



Para conversar um pouco mais sobre o potencial do uso de dados na área de educação, vamos bater um papo com Bruno Rizardi, cofundador da Catálise Social. Bruno teve passagem pelo MEC (Ministério da Educação) e vem atuando no desenho de projetos para o uso de dados voltados à educação em Secretarias Municipais.

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BRUNO, PRIMEIRAMENTE OBRIGADO PELA DISPONIBILIDADE PARA ESSA ENTREVISTA! PARA INICIAR NOSSO BATE PAPO: QUE TIPO DE DADO PODE AJUDAR PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO A REVERTER UM CENÁRIO PÓS-PANDEMIA TÃO DESAFIANTE?


Bruno -> Acho que existem algumas formas de observar os dados educacionais. Temos indicadores que são levantados pelo INEP, especialmente o IDEB, que teve uma atualização recente e dá um bom cenário da trajetória das redes de ensino. Porém, o IDEB tem uma periodicidade bianual, e acabamos de receber o de 2021. Então, precisamos de dados mais tempestivos para tomar melhores decisões. Um dado facilmente disponível são os dados de evasão, que ajudam a ter um cenário mais ou menos relevante sobre a relação dos alunos nas escolas, mas não são suficientes para tomar decisões, porque a evasão é um problema já concretizado. Precisamos de dados que permitam uma ação preventiva, para que a escola possa evitar que o aluno ou aluna desistam do ensino. Já sobre o grande desafio gerado pela COVID-19, a defasagem na aprendizagem, acredito que seja um trabalho de diagnóstico de muitos institutos de pesquisa, inclusive um trabalho bem interessante do Guilherme Lichand para a folha de São Paulo exemplifica bem essa colaboração entre pesquisadores e redes de ensino para dimensionar o impacto na educação. Acho que um dado que é importante de ser coletado é a opinião do aluno e da aluna. É superimportante ouvir sobre a experiência e a trajetória dos alunos pela educação, e é algo que raramente fazemos de forma sistemática. Acredito que, para avançar e buscar essa recuperação no cenário educacional, precisamos estar mais próximos do que nunca dos professores e alunos.


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NA SUA VISÃO, QUAIS OS DESAFIOS PARA EDUCADORES E EDUCADORAS NO USO DE DADOS PARA NO ENSINO PÚBLICO?


Bruno -> Acredito que um dos grandes desafios é que os dados são pouco estruturados, especialmente no contexto municipal. Muitas prefeituras, e até alguns governos estaduais, têm dificuldade em criar bancos de dados consistentes que permitam interface com aplicações para realizar análises úteis que auxiliam na tomada de decisão. Outro desafio que eu vejo é que muitos gestores escolares são demandados de forma contínua para alimentar dados, de forma até mesmo repetitiva, gerando uma alta demanda para as escolas que não necessariamente contribui para formar uma base de dados de qualidade nos órgãos centrais.

Por fim, existe também uma lacuna de competências, tanto nos gestores escolares quanto nos públicos, no uso de dados no dia a dia. Muitos desses profissionais não são formados para coletar, estruturar ou até mesmo analisar dados, porque essa é uma realidade que ainda vem se consolidando nos entes subnacionais. Fico muito feliz em ver iniciativas como a Vetor Brasil, que está olhando para competências de gestão escolar, e da Social Good Brasil, que traz a pauta de dados na gestão pública para o centro da discussão.



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COMO VOCÊ ACHA QUE EMPREENDEDORES SOCIAIS, INICIATIVAS DE ONGS E FUNDAÇÕES PODEM AUXILIAR NO APOIO AO GOVERNO E ENTREGAR UMA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE?


Bruno -> Creio que existem várias alternativas para uma colaboração entre organizações da sociedade civil e governo. Primeiro, existem aquelas focadas na melhoria da gestão pública, e isso pode acontecer de várias formas, mas uma que tem ganho força são as de gestão de pessoas - valorizar os servidores públicos e contribuir para o desenvolvimento de competências é essencial na educação, porque é uma área que vem passando por grandes desafios e transformações. Outra forma é contribuir para a implementação de políticas educacionais - muitas fundações têm esse papel de parceiro técnico do estado, oferecendo suporte e apoiando o governo a implementar iniciativas e aumentar a qualidade dos programas públicos. Isso é muito importante, porque é muitas vezes na implementação que o problema se intensifica, especialmente quando são políticas novas, como o ensino médio em tempo integral ou a BNCC. Nesses casos, é bem importante a colaboração da sociedade civil organizada com o governo, gerando oportunidades de melhorar a educação pública e nossas escolas.

Seguimos na jornada pela educação e hoje tem entrevista especial. Quais desafios da educação brasileira, que são muitos, podemos resolver utilizando dados e a tecnologia? Qual o papel de organizações da sociedade civil para ajudar a educação pública a superar alguns desafios históricos?








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